O primeiro desses lados pode se encaixar para quem fala espanhol. Esse é o seu caso? Hispanofalantes de maneira geral tendem a ter mais confiança linguística no processo de aquisição e aprendizagem do português — vamos pensar aqui em aquisição como um processo mais informal e inconsciente e na aprendizagem como um processo mais formal e consciente, como em sala de aula. Essa confiança se dá primariamente pela similaridade entre o português e o espanhol, que são línguas irmãs oriundas do latim vulgar. Falando em família, dá uma olhadinha na genealogia do Tronco Indo-Europeu. Assim, você vai entender mais sobre a proximidade entre as línguas:
Fonte da imagem: https://dimensaox2016.blogspot.com/2017/04/os-povos-indo-europeus.html
Vale lembrar que há outros troncos linguísticos, como o Macro-Jê, ao qual pertencem línguas indígenas brasileiras como as línguas karajá e guató. Até mesmo os irmãos têm suas diferenças, não é mesmo? Com as línguas itálicas não é diferente, ainda mais quando tratamos dos seus sons. O espanhol tem cinco sons vocálicos. O português tem mais que o dobro! E quais desses sons vocálicos são mais desafiadores para os falantes de espanhol? Sim, são as famigeradas nasais.
Se você fala espanhol, deve ter bem claro aí na sua mente aquela aula sobre a família em que ficou meio perdido quando aprendeu as palavras "avô" e "avó". Nesse mesmo dia, seu professor provavelmente deve ter mencionado que há plurais com mudança na abertura das vogais e lá vieram "ovo", "ovos" e "olho" e "olhos". Além disso, será que você se lembra de como foi desafiador fazer distinção entre /b/ e /v/? Sem falar nas outras consoantes.
O segundo lado da moeda é para quem fala línguas bem distantes do português. O inglês, por exemplo, não é um parente próximo. Ele faz parte da família germânica das línguas e tem uma variedade grande de vogais, como o português. Entretanto, a priori, um falante nativo de inglês pode achar bem complicado lidar com a variedade de sons dos erres em português, com os sons da consoante “g” e com o ritmo da língua, que parece dançar quando os falantes fazem perguntas. Há, claro, outros desafios.
Se alguém te perguntar: qual é o seu objetivo ao aprender uma língua? Como você deseja falá-la? É bem provável que o seu desejo seja falar essa língua muito bem, próximo ou igual a um falante nativo. Essa busca pela perfeição pode ser motivadora, mas é, também, desnecessária. A comunicação acontece quando duas pessoas conseguem se entender, compreender a mensagem, ainda que haja algumas inadequações de pronúncia quanto à norma.
Nós temos a seguir algumas dicas para você melhorar a sua pronúncia. Quando você dedicar um tempo para melhorá-la, pense em conhecer:
1. A sílaba mais forte (tônica)
Os dicionários bilíngues podem ser grandes aliados. Alguns deles contêm a transcrição fonética das palavras e você poderá ver qual é a sílaba mais forte. Mas, sinceramente, não recomendamos que você os consulte com tanta frequência para esse fim. Se você se expuser a situações comunicativas reais, logo vai internalizar tudo isso e gradativamente democracia vai se tornar democracia na sua cabeça.
2. O ritmo de fala da variedade de português que deseja aprender
Você sabia que o português é língua oficial em nove países? Além disso, devido à extensão continental do Brasil e seu percurso histórico-cultural, há muitas variedades só neste país. Vale a pena conhecer as peculiaridades dessas variedades!
3. A entonação nas perguntas, nas frases exclamativas, afirmativas e negativas
Diferentemente do inglês, o português não tem auxiliares como o "do" ou o "did" para fazer perguntas. Também não fazemos a inversão da posição do pronome e do verbo como no francês. Para indicar que estamos fazendo uma pergunta, por exemplo, mudamos a entonação e produzimos a frase num ritmo ascendente. Já percebeu isso?
4. A ligação entre as palavras
As línguas são de forma geral bem eficientes e tendemos naturalmente a ter uma postura mais econômica quando falamos. É legal que você perceba que há ligações entre as palavras numa frase como “a casa amarela estava aberta”. É bem provável que você ouça e produza essa mesma frase como “acasamarelistavaberta”
É importante que você saiba que melhorar a pronúncia pode ajudar você a ficar mais confiante quando estiver falando português. Essa autoconfiança pode ser muito motivadora no processo de aquisição de uma língua. Entretanto, tudo bem também se você não dispuser de um tempo para treinar a pronúncia e só fizer isso nas conversações reais. Saiba que ter sotaque não é uma desvantagem ou uma característica negativa. Inclusive o Exame Celpe-Bras deixa bem claro na sua avaliação que não espera uma fala sem sotaque até mesmo nos níveis mais avançados.
O sotaque faz parte da sua identidade e não apenas linguística. Quando você se sentir inseguro ou incapaz, lembre-se de que antes de tudo você é bilíngue, trilíngue ou até mesmo poliglota.
Você já conquistou o português! Acredite!
Eugênia Fernandes
Equipe Icepe
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